terça-feira, 4 de junho de 2013

TEXTO - LEID CARNEVALLI

O mundo mágico dos textos


      Érico Veríssimo relata, em suas memórias , um episódio de sua adolescência que teve influência significativa em sua carreira de escritor.
“Lembro-me de que , certa noite- eu teria uns quatorze anos, quando muito, entregaram-me de segurar uma lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de operações, enquanto um médico fazia os primeiros curativos num pobre-diabo que soldados da Polícia Municipal haviam “carneado” (...) . Apesar do horror e da náusea, continuei firme onde estava , talvez pensando assim: se esse caboclo pode aguentar tudo isso sem gemer, porque não hei de poder ficar segurando esta lâmpada para ajudar o doutor a costurar estes talhos e salvar essa vida? (...)
Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem-me animado  até hoje a idéia de que o menos que o escritor pode fazer , numa época de atrocidades e injustiças como a nossa, é acender sua lâmpada, fazer luz sobre a realidade do seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror. Se não tivermos lâmpada elétrica, acendamos o nosso toco de vela ou, em último caso, risquemos fósforos repetidamente, como sinal de que não desertamos do nosso posto” ( Veríssimo, Érico. Solo de Clarineta. Porto Alegre: Globo. 1978.)

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