TEXTOS: A PAUSA
de Moacir Scliar e COTA ZERO de Carlos Drummond
de Andrade
1. OBJETIVO GERAL:
Trabalhar o texto
narrativo crônica A PAUSA com objetivo de, partindo
do cotidiano, levar o aluno a refletir
mais detidamente sobre a realidade em que está inserido. Reforçar a temática abordada, lançando mão do poema
COTA ZERO de Carlos Drummond de Andrade.
2. OBJETIVO ESPECÍFICO:
Realizar o trabalho de forma a levar o aluno a identificar
informações que levam o leitor a entender
os momentos descritos pelos autores com a vida
de qualquer indivíduo, nos dias
atuais.
Associar os temas descritos
com a realidade vivida por eles
Realizar o trabalho
de forma a levar o aluno a reconhecer, em linhas gerais, as especificidades da crônica e do poema.
3. Competência:
Envolver o aluno na leitura de modo a inferir sentidos que são sugeridos nos textos.
Identificar referências a outros textos, buscando
informações adicionais, se necessário..
Identificar as
especificidades estruturais( os traços característicos) da crônica e do poema.
Refletir sobre experiências vividas pelos alunos que se aproximam das situações apresentadas
pelos autores.
Trocar impressões a respeito dos textos lidos que sejam similares às situações apresentadas
pelos autores.
Acolher , por em debate, outras opiniões apresentadas pelos
alunos.
Explorar e desenvolver a capacidade de ampliar sentidos das palavras ( linguagem
figurada)
Pesquisar na internet a respeito da história dos autores.
Produção coletiva de uma crônica, baseada ou não na música
sugerida: Você não entende nada de Caetano Veloso.
4. ESTRATÉGIAS:
4.1.Antes da Leitura:
-Antecipação do tema
ou predição dos sentidos a serem trabalhados nos textos, começando pela
Bíblia, p. ex. Deus criou o mundo em .... dias e descansou no ....... O que
isto sugere? Será que podemos generalizar para os dias de hoje?
- Estabelecer expectativa mostrando a diferença gráfica de
apresentação dos dois textos
-Estabelecer o paralelo semântico entre os termos “ pausa “
e “ stop” .
-Esclarecimentos de palavras desconhecidas ( regionalismos )
sempre que necessário.
(Obs. Na fase de familiarização inicial com o texto,
apresentar informações que situem os
autores Moacir Scliar e Carlos Drummond de Andrade no panorama da Literatura Brasileira:
demonstrar sua contemporaneidade; informar sobre a vida deles, obra, com objetivo de se interessar, inclusive por
outras leituras destes autores. Haverá, inclusive, pesquisa na internet, via
Laboratório de Informática da escola).
4.2. Ato de Ler:
Leitura autônoma, em silêncio
Leitura realizada pelo professor
Leitura jogralizada( narrador,personagens) .
4.3. - Após a leitura:
-O autor demonstra se houve momento de “ pausa”; parada?
-Identificar inferências implícitas e explícitas( p. ex. “
cacarejam”, “ stop” )
5. Avaliação:
-O aluno entendeu os textos
identificando a importância do tema para a vida dele no mundo?
- O aluno
entendeu o que os autores
pretendem com estes dois textos?
-Quais são as posições “defendidas” pelos autores?
-O aluno é capaz de identificar a diferença entre o “ ter” e
o “ ser” ? Um exclui o outro? Qual
destes traz ao ser humano valor afetivo,
valor de realização pessoal?
-Produzir, coletivamente, uma crônica, mesmo que seja
baseada na música
Sugestão de
músicas: Você não entende nada de Caetano Veloso
SUGESTÃO : PARTE I
- A PAUSA Autor: Moacir Scliar
“ Às sete horas
o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para o banheiro, fez a barba
e lavou-se. Vestiu-se rapidamente e sem ruído. Estava na cozinha, preparando
sanduíches, quando a mulher apareceu bocejando:
-Vais sair
de novo, Samuel?
Fez que sim
com a cabeça. Embora jovem, tinha a fronte calva; mas as sobrancelhas eram
espessas, a barba, embora recém-feita, deixava ainda no rosto uma sombra azulada.
O conjunto era uma máscara escura.
-todos os
domingos tu sais cedo – observou a mulher com azedume na voz.
-Tenho
muito trabalho no escritório – disse o marido, secamente.
Ela olhou
os sanduíches:
-Por que não
vens almoçar?
- Já te
disse; muito trabalho. Não há tempo. Levo um lanche.
A mulher
coçava a axila esquerda. Antes que voltasse à carga, Samuel pegou o chapéu:
-Volto de
noite.
As ruas
estavam ainda úmidas de cerração. Samuel tirou o carro da garagem. Guiava
vagarosamente; ao longo do cais, olhando os guindastes, as barcaças atracadas.
Estacionou o carro numa travessa quieta. Com o pacote de sanduíches
debaixo do braço, caminhou apressadamente duas quadras. Deteve-se ao chegar a
um hotel pequeno e sujo. Olhou para os
lados e entrou furtivamente. Bateu com as chaves do carro no balcão, acordando
um homenzinho que dormia sentado numa poltrona rasgada. Era o gerente.
Esfregando os olhos, pôs-se de pé:
- Ah!
Seu Isidoro! Chegou mais cedo hoje. Friozinho bom este, não é? A gente...
-Estou
com pressa, seu Raul – atalhou Samuel.
- Está
bem, não vou atrapalhar. O de sempre . Estendeu a chave.
Samuel
subiu quatro laços de uma escada vacilante. Ao chegar ao último andar, duas mulheres gordas, de
chambre floreado, olharam-no com curiosidade:
-Aqui,
meu bem! – uma gritou, e riu ; um cacarejo curto.
Ofegante, Samuel entrou no quarto e fechou a porta à chave. Era um
aposento pequeno: uma cama de casal, um guarda roupa de pinho; a um canto, uma
bacia cheia d’água , sobre um tripé. Samuel correu as cortinas esfarrapadas,
tirou do bolso um despertador de viagem, deu corda e colocou-o na mesinha de
cabeceira.
Puxou a colcha e examinou os lençóis
com o cenho franzido; com um suspiro, tirou o casaco e os sapatos,
afrouxou a gravata. Sentado na cama , comeu vorazmente quatro sanduíches.
Limpou os dedos no papel de embrulho, deitou-se e fechou os olhos.
Dormir.
Em pouco, dormia. Lá embaixo, a cidade começava a mover-se: os
automóveis buzinando; os jornaleiros gritando, os sons longínquos.
Um raio de sol filtrou-se pela cortina, estampou um círculo luminoso no
chão carcomido.
Samuel, dormia; sonhava. Nu, corria por uma planície imensa. Perseguido
por um índio montado a cavalo. No quarto abafado ressoava o galope. No planalto
da testa, nas colinas do ventre, no vale entre as pernas, corriam. Samuel mexia
e resmungava. Às duas e meia da tarde sentiu uma dor lancinante nas costas.
Sentou-se na cama, os olhos esbugalhados; o índio acabara de trespassa-lo com a
lança. Esvaindo-se em sangue, molhado de suor. Samuel tombou lentamente, ouviu
o apito soturno do vapor. Depois silêncio.
Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para a
bacia, lavou-se. Vestiu-se rapidamente e saiu.
Sentado numa poltrona, o gerente lia uma revista.
-Já vai, seu Isidoro?
-Já- disse Samuel, entregando a chave. Pagou, conferiu o troco em
silêncio.
- Até domingo que vem seu Isidoro –
disse o gerente.
- Não sei se virei- respondeu Samuel, olhando pela porta; a noite caía.
-O senhor diz isto, mas volta sempre- observou o homeme rindo.
Samuel saiu.
Ao longo do cais, guiava lentamente. Parou um instante, ficou olhando os
guindastes recortados contra o céu avermelhado. Depois, seguiu. Para casa....
SCLIAR, Moacir in: O Carnaval dos
Animais. Porto Alegre. Ed. Movimento. 1963.
6. Alguns parâmetros prévios quanto à prática docente:
6.1. Trabalhar
elementos do gênero narrativo
6.1.1. O narrador participa das ações ? Em que pessoa foi
narrada a história? Mas como pode o
narrador ficar sabendo sobre o sonho do personagem? O que isto significa? Ou seja, temos um
narrador-deus: narrador onisciente?
6.1.2. O texto
caracteriza os lugares, as pessoas e envolve o leitor numa “história”?
6.2.
quanto ao personagem Samuel,
fronte calva, sobrancelhas espessas, rosto com uma sombra azulada “ o conjunto
era uma máscara escura”; usava chapéu e trabalhava , durante a semana, num
escritório.
Samuel
relaciona-se secamente com a mulher que “ levantou bocejando”; e tem “ azedume na voz” e (...) “coçava a
axila esquerda”.
6.3..Quanto ao
espaço: oposição. A casa em que morava com a mulher( de onde procura “correr
silenciosamente”) e o hotel “ ao longo do cais”, pequeno e sujo , com “ escada
vacilante” onde entra “ furtivamente”.
No último andar está o quarto, contíguo ao de “ duas mulheres gordas”
que “ cacarejam” . Descrição do quarto enfatizar o aspecto de pequeno e
sujo(“cortina esfarrapada”).
6.4..Quanto ao
tempo: círculo de 12 horas ( a pausa )
6.5.
Estudo do Tema O domingo na vida
de Samuel.
6.5.1. Apresentação do efeito de estranhamento temático:
senta na cama come quatro sanduíches e
deita para dormir.
6.5.2.
Apresentação metafórica por meio de uma
parábola : o sonho de que estava nu e perseguido por um índio montado a
cavalo, o galope, o ferimento.
6.5.3.Retomada
ao título “ pausa”.
Encaminhamento do
raciocínio para demonstrar que o autor, parte de um dia que todos vivem, que é
o domingo, mas que , através do comportamento inusitado de Samuel, nos leva a
refletir mais detidamente sobre o
que gostaríamos de fazer , se nos despojássemos
de tudo e nos afastássemos para sonhar pelo menos.
Samuel representa a
frustração humana: durante a semana
vive como reduzido à objeto, mas
na pensão ele encontra a sua função de sujeito, nem que seja em sonho com hora
marcada para acabar ( porque ele está incapaz de romper o círculo, já que na semana que vem irá voltar)..
7. Divisão da
turma em grupos
Perguntas: O texto infere uma crítica à vida, à sociedade em
que vivemos?
Em
que medida podemos perceber uma problemática existencial do
personagem Samuel?
Qual a posição do narrador
diante do fato narrado? Pessoal ou
impessoal?
O
“ índio a cavalo “ pode ter conotação com a natureza, liberdade? ‘
Relacionar o sentido denotativo e o conotativo, extraindo daí “ o efeito
da história”( será que ele quer estabelecer vínculo de homem “
civilizado”/natureza?; será que ele quer fugir de seu quotidiano burocrático?
).
8.. Justificar
o título da história: Pausa.
9.Montar no
grupo relato de casos que enfoque o seguinte tema apresentado no texto.Em cada
grupo será escolhido o redator e o expositor. O objetivo é avaliar a capacidade
de expressão dos alunos, motivar neles uma reflexão crítica e a interação dos
relatos apresentados pela classe. Pode fazer paralelo com a música “ Você não
entende nada” de Caetano Veloso ( principalmente com os versos: “ (...) Você
tem que saber que eu quero correr o mundo// correr perigo// Eu quero ir-me embora//
eu quero dar o fora//(..)”.
SUGESTÃO - PARTE
II “ COTA ZERO”
POEMA DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE.
Cota Zero
Stop.
A vida parou
Ou foi o automóvel?
Carlos
Drummond de Andrade
1. O MUNDO DO POEMA
Introdução:
É uma nova
forma de falar, uma nova forma de perceber as palavras
Nós mesmos
no dia a dia falamos uma palavra igual , mas variamos o sentido da mesma sem nos darmos conta. Ex. A
cobra me mordeu; minha vizinha é uma
cobra; ele é cobra em computação.
A matéria
prima no poema vem a ser a a palavra.
O poeta é aquele que tira a palavra do uso “ normal” e nos leva ao
estranhamento, ou seja, experimentar
outro sentido para ela. [Ex. No meio do caminho tinha uma pedra// no meio do
caminho// tinha uma pedra// no meio do caminho tinha uma pedra.(...)]
Portanto,
no poema, texto escrito em verso,o foco
recai sobre as palavras, trabalha-se com a expressividade da palavra,
selecionando-a, combinando-a.
São características estruturais do poema a métrica, a rima, o ritmo.
Mas
isto não significa que para ser poema o
verso precise apresentar rima, métrica,
estrofe, pois existe o verso livre ( abandono da métrica); as estrofes
irregulares e o verso branco ( ou seja, o verso sem rima).
O que um
poema não consegue é abrir mão do ritmo,
que pode ser alcançado não apenas pelas sílabas tônicas e átonas, mas , também
, pela pontuação, pela disposição plástica no papel, pela disposição da palavra
no verso.
2. COTA
ZERO
No poema
COTA ZERO , temos o eu do poeta( Carlos Drummond de Andrade) que não se confunde com o o eu-poético, ou
seja eu-lírico( a voz que fala no poema). Ex. Na Idade Média, nas Cantigas de
Amigo o poeta era um homem, mas o eu-lírico era uma mulher que se expressava.
O
poema COTA ZERO é um poema mínimo que procura captar com concisão e
simplicidade um momento da vida de um indivíduo que propõe uma associação de idéias que abarquem
a vida inteira do “ eu”
Pode-se aproximar este poema do Haicai., embora não apresente a
metrificação deste( o que é dispensável no modernismo, não?).
Obs. Haicai são poemas de três versos( 17 sílabas poéticas) que procuram
fixar a realidade das coisas, com grande economia de descrição, propondo uma
visão incompleta que o leitor precisará desenvolver, senão não perceberá a
presença do poético, senão não fará
ecoar a síntese existencial captada pelo poeta.
3. Associação
e Inferência
3.1. Retomar informações complementares a respeito de
Carlos Drummond de Andrade no
panorama da Literatura Brasileira: demonstrar sua contemporaneidade; informar
sobre sua vida, obra, com objetivo de se
interessar, inclusive por outras leituras deste autor.
3.2. Emitir
opinião a respeito de situação semelhante vivida pelo próprio aluno( o que
pensa enquanto espera o semáforo abrir
ou quando viaja). Há aquele momento de fuga/ distração?
3.3.
Estabelecer associação com o texto “ A Pausa”
3.4..Debater
as diferenças de pontos de vista que ocorrerem em sala
4.. Alguns
parâmetros prévios quanto à prática
docente:
4.1.Organizar os argumentos utilizados pelo autor começando
pelo:
A)Título
cota= parte, quinhão,
medida que cabe a cada um
zero= nada
B) Versos
Stop: parada,
pausa, espera
A vida parou ou foi o automóvel? : dúvida, angústia
Exige uma reflexão; uma sondagem pluralista
Simbiose: vida com a máquina?
4.2.Leitura de Retomada
Deixou de viver?
Cota zero?
Vida vazia, zero?
Stop:
momento/ instante da existência em que
sentiu o nada
De sua vida absorvida pela vida agitada, sem parada, do cotidiano
4.3.Inferência: Qualquer pessoa , em qualquer tempo, pode
cair em si, e questionar
sobre o vazio da
sua vida.
4.4.Valoração poética: fala a todos, logo, universalidade.
A qualquer
época: logo atemporaneidade
4.5. Tema: inutilidade/ desagregação da existência voltada só para o material.
4.5.1.Técnica formal ( visual). Diferente número de sílabas
em cada verso do poema. Não há rimas. Apresenta um ritmo diferenciado= verso
livre.. Vocabulário cotidiano, inclusive com o termo “stop” que já foi
incorporado ao entendimento comum.
4.5.2.Técnica
semântica ( sentido)
Vocabulário
cotidiano, inclusive com o termo “stop” que já foi incorporado ao
entendimento comum.
Nota-se que não
é uma comparação entre a “ vida” e o “ automóvel”, mas uma
alternância ( ou) ,que pressupõe uma substituição. Esta alternância
insólita colhe de surpresa o
leitor, pela oposição semântica inconciliável no plano lógico, mas que
confluem no plano poético se buscarmos associar os fundamentos da luta imemoriável do homem
entre o Ter e o Ser, que no mundo
moderno está sufocando o SER, cada vez menos capaz de se perceber, de reagir, de viver. O Homem
está se tornando um ser dissolvido no dia-a-dia , uma testemunha passiva que não resiste à força de
corrosão do tráfego” da pressa, das
exigência da vida moderna.
A partir de então, as palavras que, à primeira vista, são caóticas, pela
associação de idéias fazem surgir um entendimento do Homem que, primeiro se
realiza no plano individual e que, depois, é levado ao plano social, universal.
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