domingo, 16 de junho de 2013

CURSO : MELHOR GESTÃO, MELHOR ENSINO LÍNGUA PORTUGUESA SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM: 9.º ano do Ensino Fundamental.


TEXTOS: A PAUSA
       

              de Moacir Scliar e COTA ZERO de Carlos   Drummond de Andrade

1. OBJETIVO GERAL:  Trabalhar  o  texto  narrativo crônica  A PAUSA   com objetivo de,  partindo  do cotidiano, levar o aluno a refletir   mais detidamente sobre a realidade em que  está inserido. Reforçar  a temática abordada, lançando mão do poema COTA ZERO  de Carlos Drummond de Andrade.



2. OBJETIVO ESPECÍFICO:
Realizar o trabalho de forma a levar o aluno a identificar informações  que levam o leitor a entender os momentos  descritos pelos autores  com a vida  de qualquer  indivíduo, nos dias atuais.
Associar os temas descritos  com a realidade vivida por eles
 Realizar o trabalho de forma a levar o aluno a reconhecer, em linhas gerais,  as especificidades  da crônica e do  poema.


3. Competência:

Envolver o aluno na leitura de modo a inferir sentidos   que são sugeridos nos textos.
Identificar referências a outros textos, buscando informações adicionais, se necessário..
Identificar  as especificidades estruturais( os traços característicos) da crônica e do poema.
Refletir sobre experiências vividas pelos alunos  que se aproximam das situações apresentadas pelos autores.
Trocar impressões a respeito dos textos lidos  que sejam similares às situações apresentadas pelos autores.
Acolher , por em debate, outras opiniões apresentadas pelos alunos.
Explorar e desenvolver a capacidade de  ampliar sentidos das palavras ( linguagem figurada)
Pesquisar na internet a respeito da história dos autores.
Produção coletiva de uma crônica, baseada ou não na música sugerida: Você não entende nada de Caetano Veloso.                                                                                                                                                    

  

4. ESTRATÉGIAS:

4.1.Antes da Leitura:
-Antecipação do tema  ou predição dos sentidos a serem trabalhados nos textos, começando pela Bíblia, p. ex. Deus criou o mundo em .... dias e descansou no ....... O que isto sugere? Será que podemos generalizar para os dias de hoje?
- Estabelecer expectativa mostrando a diferença gráfica de apresentação dos dois textos
-Estabelecer o paralelo semântico entre os termos “ pausa “ e “ stop” .
-Esclarecimentos de palavras desconhecidas ( regionalismos ) sempre que necessário.
(Obs. Na fase de familiarização inicial com o texto, apresentar informações que situem  os autores Moacir Scliar e Carlos Drummond de Andrade   no panorama da Literatura Brasileira: demonstrar sua contemporaneidade; informar sobre a vida deles, obra,  com objetivo de se interessar, inclusive por outras leituras destes autores. Haverá, inclusive, pesquisa na internet, via Laboratório de Informática da escola).    


4.2. Ato de Ler:
Leitura autônoma, em silêncio
Leitura realizada pelo professor
Leitura jogralizada( narrador,personagens) .

4.3. - Após a leitura:
-O autor demonstra se houve momento de “ pausa”; parada?
-Identificar inferências implícitas e explícitas( p. ex. “ cacarejam”, “ stop” )

5. Avaliação:
-O aluno entendeu os textos  identificando a importância do tema para a vida dele  no mundo?
- O aluno  entendeu  o que os autores pretendem com estes dois textos?
-Quais são as posições “defendidas” pelos autores?
-O aluno é capaz de identificar a diferença entre o “ ter” e o “ ser” ?  Um exclui o outro? Qual destes traz ao ser humano  valor afetivo, valor de realização pessoal?
-Produzir, coletivamente, uma crônica, mesmo que seja baseada na música
      Sugestão de músicas: Você não entende nada de Caetano Veloso

SUGESTÃO : PARTE I  -       A PAUSA  Autor: Moacir Scliar

       “ Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para o banheiro, fez a barba e lavou-se. Vestiu-se rapidamente e sem ruído. Estava na cozinha, preparando sanduíches, quando a mulher apareceu bocejando:
          -Vais sair de novo, Samuel?
          Fez que sim com a cabeça. Embora jovem, tinha a fronte calva; mas as sobrancelhas eram espessas, a barba, embora recém-feita, deixava ainda no rosto uma sombra azulada. O conjunto era uma máscara escura.
           -todos os domingos tu sais cedo – observou a mulher com azedume na voz.
           -Tenho muito trabalho no escritório – disse o marido, secamente.
           Ela olhou os sanduíches:
           -Por que não vens almoçar?
           - Já te disse; muito trabalho. Não há tempo. Levo um lanche.
           A mulher coçava a axila esquerda. Antes que voltasse à carga, Samuel pegou o chapéu:
            -Volto de noite.
            As ruas estavam ainda úmidas de cerração. Samuel tirou o carro da garagem. Guiava vagarosamente; ao longo do cais, olhando os guindastes, as barcaças atracadas.
             Estacionou o carro numa travessa quieta. Com o pacote de sanduíches debaixo do braço, caminhou apressadamente duas quadras. Deteve-se ao chegar a um hotel   pequeno e sujo. Olhou para os lados e entrou furtivamente. Bateu com as chaves do carro no balcão, acordando um homenzinho que dormia sentado numa poltrona rasgada. Era o gerente. Esfregando os olhos, pôs-se de pé:
               - Ah! Seu Isidoro! Chegou mais cedo hoje. Friozinho bom este, não é? A gente...
               -Estou com pressa, seu Raul – atalhou Samuel.
               - Está bem, não vou atrapalhar. O de sempre . Estendeu a chave.
               Samuel subiu quatro laços de uma escada vacilante. Ao chegar  ao último andar, duas mulheres gordas, de chambre floreado, olharam-no com curiosidade:
               -Aqui, meu bem! – uma gritou, e riu ; um cacarejo curto.
                Ofegante, Samuel entrou no quarto e fechou a porta à chave. Era um aposento pequeno: uma cama de casal, um guarda roupa de pinho; a um canto, uma bacia cheia d’água , sobre um tripé. Samuel correu as cortinas esfarrapadas, tirou do bolso um despertador de viagem, deu corda e colocou-o na mesinha de cabeceira.
                       Puxou a colcha e examinou os lençóis  com o cenho franzido; com um suspiro, tirou o casaco e os sapatos, afrouxou a gravata. Sentado na cama , comeu vorazmente quatro sanduíches. Limpou os dedos no papel de embrulho, deitou-se e fechou os olhos.
                     Dormir.
                      Em pouco, dormia. Lá embaixo, a cidade começava a mover-se: os automóveis buzinando; os jornaleiros gritando, os sons longínquos.
                       Um raio de sol filtrou-se pela cortina, estampou um círculo luminoso no chão carcomido.
                       Samuel, dormia; sonhava. Nu, corria por uma planície imensa. Perseguido por um índio montado a cavalo. No quarto abafado ressoava o galope. No planalto da testa, nas colinas do ventre, no vale entre as pernas, corriam. Samuel mexia e resmungava. Às duas e meia da tarde sentiu uma dor lancinante nas costas. Sentou-se na cama, os olhos esbugalhados; o índio acabara de trespassa-lo com a lança. Esvaindo-se em sangue, molhado de suor. Samuel tombou lentamente, ouviu o apito soturno do vapor. Depois silêncio.
                        Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para a bacia, lavou-se. Vestiu-se rapidamente e saiu.
                        Sentado numa poltrona, o gerente lia uma revista.
                        -Já vai, seu Isidoro?
                        -Já- disse Samuel, entregando a chave. Pagou, conferiu o troco em silêncio.
                        - Até domingo que vem seu Isidoro – disse o gerente.
                        - Não sei se virei- respondeu Samuel, olhando pela porta; a noite caía.
                        -O senhor diz isto, mas volta sempre- observou o homeme rindo.
                                   Samuel saiu.
                        Ao longo do cais, guiava lentamente. Parou um instante, ficou olhando os guindastes recortados contra o céu avermelhado. Depois, seguiu. Para casa....
              
                               SCLIAR, Moacir in: O Carnaval dos Animais. Porto Alegre. Ed. Movimento. 1963.

6. Alguns parâmetros prévios quanto  à prática docente:

     6.1. Trabalhar elementos do gênero narrativo
6.1.1. O narrador participa das ações ? Em que pessoa foi narrada a história? Mas  como pode o narrador ficar sabendo sobre o sonho do personagem?  O que isto significa? Ou seja, temos um narrador-deus: narrador onisciente?

 6.1.2. O texto caracteriza os lugares, as pessoas e envolve o leitor numa “história”?
    

      6.2.    quanto ao  personagem Samuel, fronte calva, sobrancelhas espessas, rosto com uma sombra azulada “ o conjunto era uma máscara escura”; usava chapéu e trabalhava , durante a semana, num escritório.
                Samuel relaciona-se secamente com a mulher que “ levantou bocejando”;  e tem “ azedume na voz” e (...) “coçava a axila esquerda”.
  
     6.3..Quanto ao espaço: oposição. A casa em que morava com a mulher( de onde procura “correr silenciosamente”) e o hotel “ ao longo do cais”, pequeno e sujo , com “ escada vacilante” onde entra “ furtivamente”.  No último andar está o quarto, contíguo ao de “ duas mulheres gordas” que “ cacarejam” . Descrição do quarto enfatizar o aspecto de pequeno e sujo(“cortina esfarrapada”).
    
    6.4..Quanto ao tempo: círculo de 12 horas ( a pausa )


6.5.                    Estudo do Tema O  domingo na vida de Samuel.
6.5.1. Apresentação do efeito de estranhamento temático: senta na  cama come quatro sanduíches e deita para dormir.
      6.5.2. Apresentação metafórica por meio de uma  parábola : o sonho de que estava nu e perseguido por um índio montado a cavalo, o galope, o ferimento.
      6.5.3.Retomada ao título “ pausa”.
 Encaminhamento do raciocínio para demonstrar que o autor, parte de um dia que todos vivem, que é o domingo, mas que , através do comportamento inusitado de Samuel, nos leva a refletir  mais detidamente sobre o que  gostaríamos  de fazer , se nos  despojássemos  de tudo e nos  afastássemos  para sonhar pelo menos.
Samuel representa a  frustração humana: durante a semana  vive como  reduzido à objeto, mas na pensão ele encontra a sua função de sujeito, nem que seja em sonho com hora marcada para acabar ( porque ele está incapaz de romper o círculo, já que  na semana que vem irá voltar)..

7.       Divisão da turma em grupos
Perguntas: O texto infere uma crítica à vida, à sociedade em que vivemos?
                 Em que medida podemos perceber uma problemática existencial do
                  personagem Samuel?
                   Qual a posição do narrador diante do fato narrado? Pessoal ou
                    impessoal?
                    O “ índio a cavalo “ pode ter conotação com a natureza, liberdade?       ‘
                     Relacionar o sentido denotativo e o conotativo, extraindo daí “ o efeito da história”( será que ele quer estabelecer vínculo de homem “ civilizado”/natureza?; será que ele quer fugir de seu quotidiano burocrático? ).
                                 
        8.. Justificar o título da história: Pausa.
 
        9.Montar no grupo relato de casos que enfoque o seguinte tema apresentado no texto.Em cada grupo será escolhido o redator e o expositor. O objetivo é avaliar a capacidade de expressão dos alunos, motivar neles uma reflexão crítica e a interação dos relatos apresentados pela classe. Pode fazer paralelo com a música “ Você não entende nada” de Caetano Veloso ( principalmente com os versos: “ (...) Você tem que saber que eu quero correr o mundo// correr perigo// Eu quero ir-me embora// eu quero dar o fora//(..)”.



 SUGESTÃO - PARTE II   “ COTA ZERO”
 POEMA  DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE.


Cota Zero
Stop.
A vida parou
Ou foi o automóvel?
         Carlos Drummond de Andrade




1. O MUNDO DO POEMA
     Introdução:
         É uma nova forma de falar, uma nova forma de perceber as palavras
           Nós mesmos no dia a dia falamos uma palavra igual , mas variamos o  sentido da mesma sem nos darmos conta. Ex. A cobra me mordeu;  minha vizinha é uma cobra; ele é cobra em computação.
            A matéria prima no poema  vem a ser a  a palavra.  O poeta é aquele que tira a palavra do uso “ normal” e nos leva ao estranhamento, ou seja,  experimentar outro sentido para ela. [Ex. No meio do caminho tinha uma pedra// no meio do caminho// tinha uma pedra// no meio do caminho tinha uma pedra.(...)]
             Portanto, no poema,  texto escrito em verso,o foco recai sobre as palavras, trabalha-se com a expressividade da palavra, selecionando-a, combinando-a.
São características estruturais do poema  a métrica, a rima, o ritmo.
               Mas isto não significa que para ser poema  o verso  precise apresentar rima, métrica, estrofe, pois existe o verso livre ( abandono da métrica); as estrofes irregulares e o verso branco ( ou seja, o verso sem rima).

              O que um poema não consegue é  abrir mão do ritmo, que pode ser alcançado não apenas pelas sílabas tônicas e átonas, mas , também , pela pontuação, pela disposição plástica no papel, pela disposição da palavra no  verso.

             2. COTA ZERO
             No poema COTA ZERO , temos o eu do poeta( Carlos Drummond de Andrade)  que não se confunde com o o eu-poético, ou seja eu-lírico( a voz que fala no poema). Ex. Na Idade Média, nas Cantigas de Amigo o poeta era um homem, mas o eu-lírico era uma mulher que se expressava.

                   O poema COTA ZERO é um poema mínimo que procura captar com concisão e simplicidade um momento da vida de um indivíduo que  propõe uma associação de idéias que abarquem a vida inteira do “ eu”

                Pode-se aproximar este poema do Haicai., embora não apresente a metrificação deste( o que é dispensável no modernismo, não?).
                Obs. Haicai são poemas de três versos( 17 sílabas poéticas) que procuram fixar a realidade das coisas, com grande economia de descrição, propondo uma visão incompleta que o leitor precisará desenvolver, senão não perceberá a presença do poético, senão  não fará ecoar a síntese existencial captada pelo poeta.


            3. Associação e Inferência
             3.1.   Retomar informações  complementares  a respeito de  Carlos Drummond de Andrade   no panorama da Literatura Brasileira: demonstrar sua contemporaneidade; informar sobre sua vida, obra,  com objetivo de se interessar, inclusive por outras leituras deste autor.   
      3.2. Emitir opinião a respeito de situação semelhante vivida pelo próprio aluno( o que pensa  enquanto espera o semáforo abrir ou quando viaja). Há aquele momento de fuga/ distração?
       3.3. Estabelecer associação com o texto “ A Pausa”
         3.4..Debater as diferenças de pontos de vista que ocorrerem em sala



  4.. Alguns parâmetros prévios quanto  à prática docente:


4.1.Organizar os argumentos utilizados pelo autor começando pelo:

A)Título
 cota= parte, quinhão, medida que cabe a cada um
 zero= nada

B)    Versos
     Stop: parada, pausa, espera
A vida parou ou foi o automóvel? : dúvida, angústia
Exige uma reflexão; uma sondagem  pluralista
Simbiose: vida com a máquina?

4.2.Leitura de Retomada
     Deixou de viver?
           Cota zero? Vida vazia, zero?
            Stop: momento/ instante da existência  em que sentiu o nada
                     De sua vida absorvida pela vida agitada, sem parada,  do cotidiano

4.3.Inferência: Qualquer pessoa , em qualquer tempo, pode cair em si, e questionar
      sobre o vazio da sua vida.

4.4.Valoração poética: fala a todos, logo, universalidade.
                                     A qualquer época: logo atemporaneidade

4.5. Tema: inutilidade/ desagregação  da existência voltada só para o material.

4.5.1.Técnica formal ( visual). Diferente número de sílabas em cada verso do poema. Não há rimas. Apresenta um ritmo diferenciado= verso livre.. Vocabulário cotidiano, inclusive com o termo “stop” que já foi incorporado  ao entendimento comum.

 4.5.2.Técnica semântica ( sentido)
      Vocabulário cotidiano, inclusive com o termo “stop” que já foi incorporado  ao        entendimento comum.
       Nota-se que não é uma comparação entre a “ vida” e o “ automóvel”,  mas uma   alternância ( ou) ,que pressupõe uma substituição. Esta  alternância  insólita  colhe de surpresa o leitor,   pela oposição       semântica  inconciliável no plano lógico, mas que confluem no plano poético  se       buscarmos associar os  fundamentos da luta imemoriável do homem entre o Ter e o Ser, que no mundo  moderno está sufocando o SER, cada vez menos capaz de  se perceber, de reagir, de viver. O Homem está se tornando um ser dissolvido no dia-a-dia , uma   testemunha       passiva que não resiste à força de corrosão do tráfego” da pressa,  das exigência da vida moderna.
A partir de então, as palavras que,  à primeira vista, são caóticas, pela associação de idéias  fazem surgir  um entendimento do Homem que, primeiro se realiza no plano individual e que, depois, é levado ao plano social, universal.
          
4.5.3.      AUTOR: Carlos Drummond de Andrade: É uma constante em sua obra o sentimento do mundo que oscila entre dois  pólos: a inquietude pessoal e social.Ele não fala de si  de forma declarada, mas subtendida. É recorrente na temática deste autor  conceber o “ mundo  caduco” e sem perspectiva( urbanismo, influência da máquina que vai delineando o ser .

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