domingo, 23 de junho de 2013

                     Necessito  de  um  ser             

                                                                      (  Mário Faustino)



Necessito de um ser, um ser humano
Que me envolva de ser
Contra e não ser universal, arcano.
Impossível de ler

À luz da lua que ressarce o dano
Cruel de adormecer
A sós, à noite, ao pé do desumano.
Desejo de morrer.

Necessito de um ser, do seu abraço.
Escuro e palpitante
Necessito de um ser dormente e lasso.

Contra meu ser arfante:
Necessito de um ser sendo ao meu lado
Um ser profundo e aberto, um ser amado

            Mário Faustino ( nasceu  em 1930 no Estado  Piauí e morreu em  1962, num  acidente aéreo nos Andes-  Peru, quando em missão jornalística para o Jornal do Brasil, onde trabalhava.) Foi bolsista na Califórnia – EUA de 1951 a 1952.Traduziu Ezra Pound . Foi tradutor na ONU – NY  de 1959 a 1960. Autor de um só livro: O Homem e sua Hora, 1955.
 Viveu  no auge do movimento concretista, foi amigo destes escritores, mas sua poesia tem uma senda literária própria. Enquanto Haroldo de Campos, Décio Pignatari e Humberto de Campos postulavam  a morte do verso, a criação de uma poesia de ruptura, com ideogramas, “ numa arte do espaço”, p.ex.; Mário Faustino faz uma poesia que dialoga, reavalia  o seu campo de percepção,  buscando o SER  mais amplo e profundo.
Mário Faustino tem consciência da linguagem como experimentação do  fazer poético, mas opta pela  palavra, pela  coesão, pela  síntese de sentidos  e pela  abstração dos significados.
O “sujeito” em seus versos,  no viver de cada dia mais difícil de  SER  no mundo  , supera o individual e ganha perspectiva coletiva, atemporal.
Na sua realidade de busca do “ eu”  ,o “ eu-lírico  apropria-se do  autoconhecimento e torna-se partícipe da Humanidade.
Nota: O que escreveu  como crítico literário: (...)  Há por toda parte, uma crise do verso. Mas que, em toda parte, ainda se faz, e pode-se fazer melhor ainda bom verso. A tradição continua, retifica-se e continua; não se perde um bom instrumento só porque outro foi inventado(...) in: Faustino. Mário. Poesia-Experiência. São Paulo. Ed.  Perspectiva, 1977, p. 280.

                                                   SONETO ANTIGO
                                      ( Mário Faustino)



Esse estoque de amor que acumulei
Ninguém veio comprar a preço justo.
Preparei meu castelo para um rei
Que mal me olhou, passando e a quanto custo.
            *
Meu tesouro amoroso há muito as traças
Comeram, secundada por ladrões.
A luz abandonou as ondas lassas
De refletir um sol que só se põe
Sozinho. Agora vou por meus infernos
Sem fantasma buscar entre fantasmas.

E marcho contra o vento, sobre etenos
Desertos sem retorno, onde olharás,
Mas sem o ver, estrela cega, o rastro
Que até aqui deixei, seguindo o astro.


         

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